
Grupo Capuchon no Festival da Palhoça
O maior festival nacional de rock que aconteceu em Santa Catarina foi o Palhostok.
O Capuchon, com as bandas “Siddhata”, “A Comunidade” e “O Som Nosso de Cada Dia” foram os grupos locais convidados para participar.
O festival iniciou no sábado a noite e continuou no domingo (tarde e noite), sendo o Capuchon o primeiro a se apresentar.
Demos o nosso melhor, contando ainda com Eliana Taulois como convidada em algumas músicas e a percussão de Erico Virissimo. Foi nossa apoteose!
Ao terminar nossa apresentação, vimos dois elementos de ternos pretos e valises nas mãos na saída do palco, nitidamente nos esperando.
Ora! Sob regime militar, nossas letras soando nas entrelinhas contra o sistema, pensamos que eram da polícia federal e, prometendo voltar logo para os atendermos (iríamos apenas guardar os instrumentos), nos refugiamos em nossa barraca próxima ao palco, de onde não saímos até altas horas da madrugada.
Depois do Capuchon, entraram os Almôndegas, com Kleiton e Kledir, fazendo um belo show (nós só os ouvimos).
No dia seguinte, conversando com um dos integrantes da banda gaúcha, este nos informou que tinham um belo contrato na Continental Discos e que, após o festival, iriam a São Paulo para gravar seu primeiro LP. E o pior: aqueles senhores de terno eram produtores da gravadora e que gostaram do Capuchon, só que estes não os procuraram, conforme haviam pedido, para assinar um contrato com eles nos mesmos moldes.
Após procurar os produtores para corrigir nosso erro, soubemos que já tinham ido embora e que só assistiram aos shows da primeira noite. Bem! Só nos restava atender o convite dos coordenadores para abrir a seqüência de shows do domingo a tarde, voltando ao palco e cumprindo quase duas horas de música.
NA ZONA 1
Um local onde muitos músicos tiveram suas primeiras experiências artísticas (e não só) foi a saudosa Vila Palmira, em Barreiros.
Aqui, vou omitir nomes para evitar constrangimentos, mesmo que não me envergonhe de tê-la freqüentado e dado minhas primeiras canjas, entre meus quinze e dezessete anos de idade.
Havia uma dupla de amigos meus que tinham contrato na Boate Coelha e um baixista e eu, menores de idade, os acompanhávamos n’algumas noites. Quando batia a polícia, tínhamos duas alternativas: ou nos escondíamos nos quartos da “meninas” ou pulávamos a janela para os fundos do palco, cujo lamaçal nos cobria até os joelhos.
Na primeira vez, optamos pela segunda alternativa, o que nos impediu de voltar à boate pelo estado lamentável em que nos encontrávamos: lama pura! Depois, mudamos de estratégia.
Uma figura impar era um marinheiro apelidado de “Biguaçú”, de quase dois metros de altura e músculos de halterofilista.
Apesar de cantar mal, meus amigos sempre ofereciam o microfone para ele cantar, o que, no começo, estranhei.
Quando estourou a primeira briga no local, entendi o procedimento deles: Biguaçú se colocava em frente ao palco e impedia qualquer um de se aproximar da banda, distribuindo porradas e defendendo os músicos.
Muita gente boa tocou um dia ali, ou em outras “bocas” como a gafieira do Laudelino, Sandália de Prata, Night & Day, etc. Aliás, foi o trabalho na Sandália de Prata que possibilitou que Neno e Landinho alugassem uma casa na Armação do Pântano do Sul, onde a banda Phoenix (com Márcio, Aldo e Edinho) ensaiou por um tempo, fazendo apresentações no salão paroquial da Armação em bailes super-animados.
A boate tinha características próprias, ficava onde era a antiga Radio Guarujá, onde aconteciam casos raros.
Havia uma fazendeira, do interior do Mato Grosso, que fretava, vez ou outra, um avião, trazendo seus empregados e amigos para passar uma noitada na Sandália. Pelo poder econômico, seus pedidos eram uma ordem, a nossa banda, que era de rock, se desdobrava para atender seus pedidos, improvisando canções bregas, quando chamávamos os clientes para cantar, já que não conhecíamos nada daquilo.
Uma streeper, lindíssima, era nossa musa; sempre deixava claro que não fazia programas, desde que se tornara mãe, e teve casos relâmpagos, primeiro comigo, depois com o Neno, mas continuou nossa amiga até deixarmos a casa.
Por causa dela, que muitos achavam que só dava bola pros músicos, certa noite, ao sair da boate, encontramos o fusca quatro portas do Neno sem os cinco parafusos de uma das rodas e, se não descobríssemos a tempo, teríamos tido um grande desastre, pois nosso destino era a Armação. Só que o ciumento sacana não lembrou que, tirando um parafuso de cada roda e colocando-os na roda em que faltavam todos, o veículo ficaria em condições de andar (todas as rodas ficaram com 4 parafusos)
Mas chegou a noite em que fomos expulsos da casa: uma streeper, que começava seu número vestida de noiva, fazia sua performance, até a hora de tirar o sutiã. Seus peitos enormes, caindo de encontro à barriga, fez um barulho tão alto, mesmo em meio à música, que caímos numa gargalhada incontida, apelidando a moça de “streeper bola murcha”. Por mais que tentássemos disfarçar, o proprietário não gostou de nossa atitude e nos dispensou.
Sem grana fixa para pagar aluguel, deixamos a casa da Armação e voltamos a ensaiar na casa do Neno, na Agronômica.
Até hoje não entendo por tantos colegas se recusam a falar sobre esta fase de suas carreiras, pois acho que nada há para se envergonhar das passagens pelas casas “de meninas”, que nos deu tanta experiência, tanto musical quanto de vida.
O ROBÔ DA FAINCO 1
Por Nei Duclós
A Fainco, segundo minha pesquisa na internet, "despertou muito a atenção do público, pela forma como foi promovida pelos engenheirandos da 1968. Na oportunidade foi aproveitado o edifício em estado de acabamento da Faculdade de Filosofia, em Trindade, juntamente com a esplanada da Universidade Federal de Santa Catarina, onde se instalou também um parque de diversões. Em 1969 programou-se uma segunda Fainco tendo por local o edifício em acabamento da Assembléia Legislativa". Nessa segunda edição, a agência AS Propague, de Antunes Severo, lançou mil exemplares de uma gravação do Rancho do Amor à Ilha, composto por Claudio Alvim Barbosa, o Zininho.
O caso do Robô da Fainco é exemplar. Recebi a história pronta, versão hilária da esperteza de um empresário que tentou ludibriar os ilhéus com um robô inspirado na mesma criatura da série televisiva, sucesso na época (anos 60 e 70), Perdidos no Espaço. Foi atração e estrondoso sucesso numa das Fainco, que se realizava todos os anos. A edição número 1 da Veja de 11 de setembro de 1968 informava que na I Feira e Amostras da Indústria e do Comércio, a ser realizada no campus da Universidade Federal de Santa Catarina (Bairro da Trindade) cem expositores estariam presentes no evento, que era um promoção da Faculdade de Engenharia da UFSC.
Mas vamos voltar ao Robô. Vários fontes se sucedem para contar a história. Uma delas é do filho do repórter que na época escreveu para o jornal "O Estado" sobre a prisão do Robô da Fainco. O escritor e contador de histórias Luiz Aurélio Baptista diz como foi. Quem me enviou a mensagem de Baptista foi o jornalista Paulo Brito. O texto diz o seguinte:
"Corria o início da década de 70, e na pacata e sempre ingênua Florianópolis acontecia todos os anos a Feira da Industria e do Comércio (Fainco – o A é de Amostras e não Anual, como saiu em alguns veículos – Nota do Diário da Fonte). Em determinada ocasião, a Fainco foi realizada na então inacabada obra da Assembléia Legislativa de SC, no centro da cidade.
Uma das atrações era um Robô, parecido com aquele do seriado "Perdidos no Espaço", coqueluche da época. O tal Robô, dizia o empresário que o trouxera, era totalmente "robótico e inteligente", ou seja, sem um ser vivo sequer dentro dele...A manezada ingênua pagava ingresso para ver aquela maravilha tecnológica da época, e como a comunicação naqueles idos era difícil, não foi possível saber que "aquela maravilha" já havia sido um fracasso em outras cidades do Brasil, tendo em vista a desconfiança das pessoas, pois achavam que ali dentro havia um ser humano, ou seja, não enganava ninguém!
Pois bem, a Fainco foi inaugurada com toda pompa, banda de música e muita reverência àquela fantástica atração - o Robô da Fainco. Após dois dias de filas intermináveis para ver o Robô, e o "empresário" do monstro já com as bufas cheias de dinheiro da manezada, eis que um singelo vigia noturno da Fainco ficou desconfiado, pois havia sido furtada uma bolsa de uma manezinha, bem no local onde o Robô circulava e ficava "desligado" à noite.
O vigia, já desconfiado que o robô era o larápio resolveu ficar de campana naquela noite, só observando o bicho, de longe, afinal, ele teria que descansar um pouco ou sentar-se, se humano fosse. Aí, pensou o esperto vigia, chamo a polícia e dou o flagrante. Não deu outra: lá por uma hora da madrugada o istepô apoiou o pézinho na parede, como todo ser humano faz, e além disso, deu um espirro... Aí foi demais! O nosso Sherlok Holmes fez um escândalo e chamou a "rapa", que prontamente prendeu o Robô e o seu dono, ou empresário, como queiram.
Foram todos madrugada adentro para a 1 ª DP explicar-se para o delegado Elói. Mas ninguém tinha coragem de tentar desmontar o bicho e nem sabiam por onde começar, pois a geringonça era bem bolada mesmo, tipo lacrado. Tenta desmontar daqui, desmontar dali, eis que chega proeminente figura do Governo Do Estado com o objetivo de levar as notícias fresquinhas ao governador, tendo em vista que o escândalo já tomava conta da madrugada. O figurão, meio afeminado que era, chegou perto do robô, olhou, olhou, tocou no bicho, não se conteve e fez a pergunta:
- Robô, tu falas? E o Robô respondeu
- Falar falo, mas com veado não!!!”
ROBÔ DA FAINCO 2
Outra fonte, Aldírio Simões, conta do seu jeito: “A prisão do robô da Fainco, por exemplo, não poderia ter sido mais burlesca, pois o policial prendeu o robô e soltou o sujeito que estava dentro da armadura. O meliante, conhecido como Sapo, protagonizou uma fuga espetacular, dessas de cinema, e aos olhos da imprensa. Sapo era um arrombador respeitado, abria as fechaduras mais sofisticadas na época e isso intrigava a polícia. Ao ser preso, o radialista Jorge Salum foi entrevistá-lo no porão de uma delegacia e o delegado, um pavão de penacho, porém incrédulo diante da especialidade de Sapo, determinou que mostrasse ao repórter a sua habilidade em abrir uma fechadura. Ele aceitou, pediu que o delegado e Salum entrassem na cela, o que foi atendido, e, do lado de fora, Sapo trancou a porta e ganhou a liberdade.”
O colunista da RBS e do Diário Catarinense, Cacau Menezes, comentou o acontecimento em janeiro deste ano: “Morreu domingo, em Los Angeles, o ator e dublê Bob May, que interpretou o robô no seriado Perdidos no Espaço. “Perigo, perigo”, alertava ele com uma voz metálica. Já outro robô também muito famoso, o da Fainco, deve estar “mocozado” em algum canto desta Ilha rara. O robô da Fainco (uma feira da indústria e do comércio local) movimentava-se e até falava, foi atração na cidade. Daí um policial desconfiou e descobriu um anão dentro do robô, que foi preso. Governador Luiz Henrique, que trabalhava no Dops, era o escrivão da época. Os detalhes desta passagem estão fazendo falta na literatura folclórica da Ilha.”
Mas há ainda outra versão, a do filho do empresário do robô, que se assina Lima no blog do Dogman e é de São Paulo: “É claro que o robô possuía alguém dentro. Vcs não assistiam perdidos no espaço?? em plenos anos 60 vc esperava robo eletrônico?? aquilo é como magico que tira coelho da cartola é para atrair pessoas e deu certo O robô não respondia perguntas decoradas, como o cidadão citou. Existia um sistema de radio intercomunicador dentro do robo Como já disse, aquilo atraiu publico e deu dinheiro para fainco. as crianças gostam os adultos tambem. Meu pai não tinha que ser alvo de mentiras subjetivas aquilo é o que todo mundo esperava. quem assistia perdidos no espaço sabia que tinha um homem dentro, nem por isso deixei de gostar dele e gosto de assistir a serie ate hoje. Se a Nasa em 1969 levou quase 40 anos para produzir um robô, porque o motivo do alarde na epoca isso é ridículo, tanto é que ganhou na justiça. foi um trabalho bonito, atraiu o publico, deu dinheiro para os stands todo mundo ganhou...”
Eis um rodízio de ingenuidade e esperteza, a revelar a mudança da capital catarinense, de pacata e bucólica, num centro de indústria e comércio, com feira importante de tecnologia. O choque foi inevitável. O perfil da cidade mudava, o robô, que deveria ser um exemplar futurista, se transformou, ou foi transformado num caso de polícia. A desconfiança em relação às mudanças, o folclore em cima da modernidade, a piada substituindo a importância do evento, tudo isso serve para “colocar as coisas no lugar”. Ou seja: não venham tentar transformar esse lugar em algo diferente que nós não permitimos. Hoje, as histórias deitam e rolam em cima da ingenuidade da ilha, numa auto-punição consentida, fonte de todo humor, pois "só nós temos direito de rir de nós mesmos".
Ou talvez nada tenha essa seriedade toda. E foi apenas um fato folclórico, lembrado às gargalhadas. E que merecia um registro aqui no Diário da Fonte, que acaba de colocar vários links permanentes para blogs de Santa Catarina e Porto Alegre, basta ver aí ao lado.