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GRUPO CAPUCHON (por Marcio Cesar)

 

I - Os Pioneiros da Música Própria da Ilha

 

            No final da década de 60, Florianópolis ainda sofria as influências diretas dos grandes centros culturais do País e do mundo, carecendo de uma identidade musical coerente com nossas raízes, já que nossas expressões maiores nesse campo limitavam-se apenas a copiar os modismos dos referidos centros, com raríssimas exceções, como os compositores Zininho e Luiz Henrique Rosa, e Neide Maria (depois, Neide Maria Rosa).

            Por estranha ironia, a falta de criatividade de elementos relacionados à política cultural da cidade levou-os a promover festivais competitivos de canções, similares àqueles realizados pela TV Record de SP, possibilitando o surgimento de uma nova geração de compositores e intérpretes, provocando um grande interesse em nosso povo a dedicar maior atenção a nossos valores artísticos.

            Como as programações de rádio e da TV Cultura, esta recém criada, ainda não estavam totalmente atreladas ao sistema nacional, nossos artistas apareciam regularmente na TV, e eram constantemente entrevistados e suas músicas executadas nas rádios;  a imprensa escrita cedia grandes espaços aos artistas locais.

            Nos finais dos anos 70, porém, os festivais entram em declínio, junto à falta de imaginação e de interesse dos promotores da cultura estadual e local, forçando a que apenas sobrevivessem os músicos que acumulassem as funções de empresário, produtor, técnico de som e iluminação, além de profissões paralelas, lutando principalmente, contra os apadrinhamentos político e a falta de espaços e eventos

culturais.

               Dentre os poucos que, por resistência idealista e amor ao trabalho musical desenvolvido, continuaram lutando não só contra as influências alienígenas e alienantes, mas

também contra os mercantilistas da arte local, destacou-se o GRUPO CAPUCHON, o primeiro formado por compositores, executando 90% de repertório próprio, com raízes na cultura ilhoa, porém com versatilidade para inserir arranjos modernos, misturando o som dos orocongos com guitarras e sintetizadores ou executando as cantigas do “boi de mamão” com instrumentos elétricos.

 

II – O Começo

 

Em 1970, Jorge Luiz Serafin (Kachias) e Savio José cumpriam seu serviço militar no antigo 14º BC (hoje 63º BI) quando, num dia festivo, seus superiores colocaram um equipamento de som e vários instrumentos a disposição dos soldados. Kachias e Sávio subiram ao palco e interpretaram várias canções de Roberto e Erasmo Carlos. Mal sabiam que iniciava, ali, a história de um grupo musical histórico em Florianópolis.

Com a inclusão de Nilo Sérgio Aguiar (percussão e vocais) , companheiro de juventude de Kachias, começaram a criar composições próprias, estimulados pelo lançamento do primeiro festival da canção em Santa Catarina (1º FUCACA – Festival Universitário Catarinense da Canção da UFSC). Apresentaram as músicas “Senhor” e “Paz”, esta última já com a participação de outro elemento importante na gaita de boca, Nelson Barreto. Este, na realidade, era um multi-artista, que alem de tocar vários instrumentos, ainda fazia as fotos do grupo.

Neste festival, foram acompanhados por The Kings, com Samuka, Repolho, Miguel e Beto Ribeiro, que se tornariam grandes e conhecidos por passagens em grandes bandas de baile de Floripa.

Assim nasceu o Capuchon, que viria se consolidar como um grupo acústico, com violão, vocais, percussão e gaita de boca como característica.

            No ano seguinte, já sem Savio e agora com Pacheco no violão, se inscrevem no 1º Festival de Ilha de Santa Catarina (1ºFISC) com a música “Silézia” (de Eloir Michels), participando ainda como vocalistas e percursionistas de vários outros concorrentes.

            Encontram, nos bastidores do Teatro Álvaro de Carvalho, o grupo A PLEBE (Marcio Cesar – voz e baixo, Zuvaldo Ribeiro – voz e violão, e Neusa Santos – voz), unindo-se para a apresentação de suas composições (“Voa, Urubú” e “El Zorro”). Depois do festival, continuam juntos em shows sob o nome PLEBE-CAPUCHON. Este grupo apresentava-se regularmente na recém-inaugurada boate do Clube Doze de Agosto (Avenida Hercílio Luz), clubes sociais e boates de Floripa.

No ano seguinte encontram, nos bastidores do Teatro Álvaro de Carvalho, o grupo A PLEBE (Marcio Cesar – voz e baixo, Zuvaldo Ribeiro – voz e violão, e Neusa Santos – voz) nos preparativos para o  1º Festival da Ilha de Santa Catarina, unindo-se para a apresentação de suas composições no mesmo, também atuando em shows sob o nome PLEBE-CAPUCHON.

   Este grupo apresentava-se regularmente na recém inaugurada boate do Clube Doze de Agosto (Avenida Hercílio Luz), clubes sociais e boates de Floripa.

Em 1972, Marcio e Aldo compuseram muitas canções e precisavam de percussionistas e vocalistas para formar um novo grupo. Convidaram Nilo e Kachias, que trouxeram consigo Nelson Magalhães e, quando foram convidados para um show no Teatro Trapiche, ficaram em dúvida de criavam um novo nome ou usariam Plebe-Capuchon. De comum acordo, com a anuência dos amigos integrantes do Capuchon, passaram a usar apenas GRUPO CAPUCHON.

Com a saída de Aldo, Miro Preis (futuramente, Folk, Tok & Cor e Manéssauros) entrou para completar o quinteto.

Nesta primeira fase, a banda projetou-se em âmbito estadual participando de todas as   promoções da dupla CA-RI (Cacau Menezes e Ricardinho Machado). Dividiam o palco com “Eliana Taulois”, “Carlos Magno & Banda Skandalus” e “Tuca e Deto e O Som Nosso de Cada Dia”, completando sua formação com os convidados Mazzola (baixo), Zequinha ou Sidney Nocetti (teclados) e Zico (bateria).    

Esta trupe apresentava-se regularmente nas tardes de sábado no Lagoa Iate Clube, no bar Tubulão (Avenida Beira Mar Norte), além de viajar pelas cidades do interior do Estado. Num dos shows na cidade de Tubarão, Cacau havia sofrido um acidente de moto e apresentou o shows numa cadeira de rodas; uma das Kombi que levava parte dos equipamentos se acidentou e a aparelhagem ficou resumida demais, sem monitores, o que fez com que Marcio e Miro, num lado do enorme palco, cantassem uma música enquanto Kachias, Nilo e Nelson cantassem outra ao mesmo tempo. Ainda bem que o público levou tudo numa boa.

Algumas das composições ainda hoje são lembradas, como “Voa Urubu”, “Cabeças”, (Marcio & Aldo), “Auxílio” (“... pra baixo todo santo ajuda, pra cima só Santos Dumont....”), “O Manga” (Nilo, Kachias e Nelson), e outras.

Nesta época, para a construção da Ponte Colombo Sales, um bom trecho da baia sul foi aterrado sobrando, solitário, o antigo trapiche Miramar, transformado em teatro de arena, sendo logo em seguida cogitada sua demolição, totalmente desnecessária, haja visto que hoje, no local onde estava, se posta um monumento em sua lembrança.

O Capuchon, ao lado de Luiz Henrique Rosa, Deto, Tuca e Sergio Lino (teatrólogo importantíssimo na época), se revezavam, inclusive dormindo no local, para garantir que nenhum trator passaria por cima, o que veio a ocorrer numa das noites onde todos se apresentavam em outros locais.

Com essa formação, seguem trabalhando até 76; em 1973, Marcio, Miro e Nelson temporariamente cedem lugar para  Zuvaldo Ribeiro (Mustangs, Mugnatas, Grande Pássaro), Reinaldo Moreira (Os Estranhos, Grupo Folk) e Érico Verícimo (percussionista free-lancer), se apresentando nos programas de maior audiência da TV brasileira na época e, pelo sucesso e qualidade, são convidados a gravar pela Copacabana Discos, fato que só não ocorreu por divergências pessoais entre alguns dos recém integrantes.

No programa de Silvio Santos, destacaram-se por obter a maior nota do jurado José Fernandes, notório por só dar notas baixas aos músicos participantes. Outro jurado, Alfredo Borba, fez o convite para a gravação.

No dia marcado, entraram no estúdio da Copacabana Discos e começaram a mostrar as canções próprias. Por não ser o Capuchon original, os convidados conheciam poucas composições originais da banda, e passaram a improvisar, cantando músicas dos Beatles. Alfredo Borba não gostou e pediu mais músicas Capuchon e, não sendo atendido, correu com o grupo do estúdio. Com a “desistência” do Capuchon, um rapaz que não teria sua chance se o Capuchon fosse aprovado e que aguardava sua vez, foi convidado pelo Borba a fazer seu teste. Segundo Kachias e Nilo, este rapaz era simplesmente Benito de Paula.

             Porém, dentre todos os eventos desta fase, o que mais marcou historicamente o CAPUCHON, novamente com Marcio, Miro, Nelson, Kachias e Nilo, contando ainda com participação de Aldo Bastos e Eliana Taulois, foi a abertura oficial e o fechamento do maior evento musical já realizado no Sul do País, que foi o PALHOSTOCK, onde o grupo conseguiu renome nacional. Kleyton e Kledir apareceram definitivamente para o resto do país a partir de suas participações neste festival (com o nome de Almôndegas), além de serem vencedores dos festivais universitários da Ilha (1º e 2º FUCACA- Festival Universitário Catarinense da Canção).

Na mesma oportunidade, o Capuchon também seria convidado a gravar, mas como algumas de suas letras criticavam o regime militar vigente e faziam apologia a canabis, seus integrantes pensaram que os dois representantes da Continental Discos (que os convocaram para uma reunião imediatamente após a apresentação, assim como o fizeram com Almôndegas) fossem agentes federais e assistiram o resto do festival escondidos numa das dezenas de barracas de camping montadas próximas ao palco. O mesmo procedimento foi seguido por Luiz Henrique Rosa e Deto e Tuca (do Som Nosso de Cada Dia), que nem realizaram suas apresentações.

A partir de 1977, o CAPUCHON procura novos caminhos, resultando em um trabalho muito bem elaborado, porém de difícil assimilação do público, com o qual participou dos circuitos universitários estaduais e municipais, ao lado do Grupo Folk.

 Na realidade, todas as bandas experimentais estavam indo na onda do rock progressivo, ouvindo muito Yes, Gênesis, Jethro, inclusive os Mutantes e o Terço no Brasil. O Capuchon, como sempre, assimilava as novidades mas, por não aceitar imitar ninguém, desenvolveu temas neo-clássicos sobre o folclore do “boi de mamão”, resultando num pastiche musical que os próprios elementos da banda não digeriam legal, imagine o público! Desta formação, que durou alguns meses, participaram, além de Márcio, Aldo e Kachias, Artur Moellmam (Jazzida), Fernando Vieira (A Comunidade, Karroussel), Umberto Ouriques (Karroussel , Flor do Sereno) e Telêmaco Siridakis, o Mursa (Karroussel).

Insatisfeitos e sob recomendação do Maestro Acácio Santana e Professor Osmar Pisani, reformulam o elenco e voltam a tocar seus sucessos iniciais (Voa Urubu, Pirâmides de Queops, Auxílio, O Manga, etc.).

A nova formação tem Márcio, Aldo e Nilo Aguiar, mais Umberto, Telêmaco e Sara  (irmã de Jane Vieira, consagrada cantora das noites de Floripa),  primeira e única voz feminina no Capuchon.

Em 78, o CAPUCHON dá uma guinada de 180 graus e parte para o folclore mais puro possível, sem perder o caráter inovador que sempre o caracterizou: monta um boi-de-mamão, convida pessoas ligadas ao folclore ilhéu (cantadores, batuqueiros, dançadores dos “bichos”, elementos da comunidade) e forma uma caravana que percorreu o Estado de Santa Catarina convidados do CAPUCHON,

Culminando com grande participação no Festival  Nacional de Dramaturgia e Arte Popular, realizado pelo Teatro Guaíra, em Curitiba,  colaborou para o sucesso desse encontro quando antecipava os eventos, percorrendo as ruas da capital paranaense, abrindo os desfiles que contavam com a participação de todos os atores dos demais estados da federação. Dentre os participantes, destacavam-se futuros integrantes do Grupo Engenho, que posteriormente utilizou as figuras deste “boi” como cenário no lançamento do primeiro LP “Eu Vou Botá Meu Boi Na Rua”, no Teatro Álvaro de  Carvalho e no Ginásio do Colégio Catarinense.

              Entre os anos de 79 e 82, a maioria dos músicos que passou pelo CAPUCHON estava tentando trabalhos solo, com destaque para os shows: “Ilha dos Sons Raros" (Aldo, Márcio, Zuvaldo, Grupo Karroussel e Grupo Folk), “Flor do Sereno” (Aldo, Márcio, Kachias, Umberto, João Carlos), “Ao Despertar dos Pássaros" (Grupo Karroussel, com Kachias, Umberto, Mursa, Cesar Maliska e Fernando Vieira), “Encontro No Verão” (Márcio, Zuvaldo, Grupo Folk e Regional do Catão),  além de participações nos grupos Phoenix (Márcio, Aldo, Landinho, Neno e Edinho) e Grande Pássaro (Zuvaldo Ribeiro, Neno, Landinho e Ringo).

A partir de 84, Márcio, Aldo, Miro e Kachias começam a rearticular o Grupo CAPUCHON, dentro de sua filosofia musical e estrutural, convidando para integrá-lo ainda o músico-escritor-compositor Carlos Roberto Cidade (grande vencedor dos festivais de música de São Jose), João Carlos (Eclipson, Flor do Sereno, Resgate), Silvio Martins (Zawajos), e Ney Platt (sax e flauta do futuro grupo Vela Aberta e Resgate).

Pode-se dizer que essa foi a fase mais perfeita do CAPUCHON, já que cada componente-compositor tinha autonomia sobre os arranjos de suas composições, dando ao grupo uma  versatilidade de estilos jamais obtida por qualquer conjunto catarinense até 86. Com esta  formação, em 1985 venceram o IV  Festival de Musica Popular de São José com a música “Cavaleiro da Eras”.

Participaram de todos os eventos musicais promovidos pelo Sistema RBS e Secretaria Estadual dos Assuntos Para a Juventude (Tarde Verde Amarela, Abertura do show da Blitz, Inauguração da Praça Tancredo Neves, Shows Parabéns Florianópolis, shows do Dia do Trabalho, shows das Semanas da Juventude, todos no Aterro da Baia Sul), além do show “Cavaleiro das Eras” (no CIC, com a participação de Maurício Cavalheiro e Banda Olho D’água), show de Rock Antena 1 (Estádio Orlando Scarpeli , shows do Ano Internacional da Juventude (em Floripa, São José e Palhoça), boate Signus (Tubarão e Criciúma), Feirart (praça XV Novembro), e muitos outros.

Em alguns destes shows, dividiram os palcos com Olho D’Água, Decalcomania, Tubarão, Grupo Expresso, além das estrelas nacionais Celso Blues Boy, Ney Lisboa, A Blitz, Made In Brazil, Lobão, Kiko Zambianchi e outros.

Composições como “Voa Urubu”, “Domínio” e “Rockilheu” (Marcio), “Todo Dia Cedo”, “Brilho” e “Escute-me, Baby” (Aldo), “Leila” e “Raio da Manhã” (João Carlos/Neno/Aldo) foram ouvidas e cantadas por todos e exigidas nos shows do Capuchon.

Em 87, Carlão e Ney deixam o Capuchon, o primeiro para dedicar-se à carreira de escritor, lançando o livro “Cavaleiro das Eras” e o segundo para terminar seu tempo de serviço no Exercito.

O sonho termina em 1988, quando gravam, em Curitiba, o compacto simples com “Brilho” e “Escute-Me, Baby”, com a venda antecipada de 300 discos, capa de Rodrigo de Haro e direção de estudio de Jorge Athaide. Ao ser enviada a matriz para São Paulo para confecção de discos e capas, recebem a notícia de que a quantidade de vinil (que estava em extinção para o lançamento dos primeiros CDs) mal daria para prensar os lançamentos de final de ano de Roberto Carlos, Xuxa e RPM (aproximadamente 5 milhões de cópias).

Já sem grana para continuar a bancar o disco, desmotivados  e com divergências quanto ao novo estilo musical a ser adotado pela banda, o Capuchon para mais uma vez, tornando-se num fantasma que assombra

constantemente seus eternos integrantes, possibilitando seu retorno a qualquer momento. Enquanto houver um ex-Capuchon vivo, sempre haverá esta possibilidade.

             Talvez por isso, em 1988, Marcio, Kachias, Miro e Aldo representam Santa Catarina com  a canção rock-sinfônica “Agoraê, O Mestiço”, para o Festival Nacional de Música (II FENEC), promovido pela Caixa Econômica Federal, realizado em Manaus, com Waltamir Kulkamp (criador da banda Zawajus) no segundo teclado, Jorge Prudêncio no baixo e Marcelo Frias (ex-Secos & Molhados) na bateria.
Porém esta apresentação foi prejudicada por problemas técnicos: o arranjo foi feito para dois teclados mas a banda que se apresentou antes de nós deixou um deles com afinação diferente do outro.

Sem sabermos, começamos com o teclado do Waltamir fazendo efeitos de selva e, quando entraram as harmonias, o piano do Miro estava meio tom abaixo da afinação do resto da banda; após o susto inicial, Miro desligou seu instrumento e executamos a música, mas a apresentação já estava prejudicada.

Pelo menos a viagem serviu para comprarmos alguns instrumentos importados na Zona Franca de Manaus.

            Na volta para Floripa, o grupo novamente se dispersou, conscientes de que, a qualquer hora, estariam novamente reunidos em torno dos ideais do eterno Capuchon.

Marcio começa a articular uma viagem musical a Europa, com a intenção oficial de levar um Capuchon, mas os desencontros fizeram-no formar novo conjunto, que executaria, entre outras, as músicas do Grupo.

 

II - REFLEXOS DO CAPUCHON : Em 1988, Márcio cria a banda Tok & Cor, com Joel Nunes (depois, Stagium 10 e The Walkers), Vinícius Lisboa (ex-Grupo Nascente) e Roberto Costa (ex-Mustangs, Mugnatas, Grupo Folk), tendo como relações públicas Zino Silva

            Após atuar em Florianópolis até o verão de 1990, o Tok & Cor, com Miro Preis e Umberto Ouriques como convidados eventuais, se mudou para a Europa, onde pretendiam, inicialmente, utilizar-se da música brasileira tradicional para entrar no mercado e, posteriormente, divulgar o repertório de composições próprias. 

Depois de 3 meses, com apresentações no Algarve, Lisboa e Madri, com a desistência dos demais, Marcio e Vinícius permanecem em trabalhos solo e várias tentativas de re-estruturar a banda na capital espanhola e Santa Cruz do Tenerife (Ilhas Canárias), apresentando-se no Café de La Villa, Café Del Foro, Oba Oba, Discoteca Ku e outras casas da Espanha. 

Rumaram para o norte de Portugal (Porto, Povoa de Varzim, Braga, Bragança, Caminha, Santo Tirso, Famalicão, Vila do Conde, etc.) a chamado do baterista Roberto Costa e trabalharam até dezembro de 95, incluindo composições próprias do CAPUCHON no repertório e em duas das três edições em K7, com boa venda nas principais cidades da região do D’Ouro. Os detalhes são contados no livro “Tok & Cor”.

Enquanto isso, em Floripa, Aldo, com Mark Cedric (filho de Marcio), Jimi Santos e outros músicos formaram a banda "Meia Noite de Sol", invadindo as noites da capital, enquanto João Carlos e Ney Platt participaram da banda "Nós & o Japonês" e muitas outras, continuando juntos nos bares de Floripa. Nilo, após temporadas de sucesso com o Grupo Folk, tornou-se produtor artístico, passando a ter a música como hobby, enquanto Sávio, Nelson, Kachias, Telêmaco, Umberto e Silvio (este após participar por longos anos da banda Os Zawajus) abandonaram a música e Carlos Cidade firma-se como poeta-escritor.

Miro continua a compor belas canções e pensa em editar seu disco próprio, tendo passado pela banda “Os Manessauros”, ao lado de outros grandes músicos da década de 60/70 como José Cabral, Valmir e Ringo.

Zuvaldo (assim como Silvio Martins),  voltou-se para a religião, não sem antes deixar sua marca no ultimo grande festival realizado em Florianópolis, vencendo-o com a belíssima canção "Apenas Doce";

 Reinaldo continuou tocando nos bares e ensaiava com os Manessauros até ser fatalmente atropelado na BR 101 no final do ano 2000. Erico tornou-se empresário artístico.

De volta ao Brasil em dezembro de 1995, Marcio continuou trabalhando na noite, com a banda "Resgate", com João Carlos e Ney Platt, a seguir formando, em  2000, a banda “Os Santos”, com o filho Mark na bateria e Jimi Santos na guitarra e voz, também realizando trabalhos solo nos bares de Floripa. Montou e apresentou o show “Nos Tempos da Jovem Guarda”, com a banda US Maneh, e os shows “Noite Italiana” , “Floripa 70” e “A Historia do Rock”, todos com a banda “Os Santos”.

Atua nas noites da Ilha com a dupla Mar & Sal, com vasto repertório.

Continua sua luta para valorização da música ilhoa, tendo sido vice-presidente da Associação dos Músicos Profissionais da Grande Florianópolis e atuando no Conselho Fiscal da Ordem dos Músicos do Brasil, Regional SC., além de estimular os novos valores locais.

No mesmo ano de retorno ao Brasil, fundou a empresa de Produções Artísticas, homenageando o nome da banda pioneira: “Grupo Musical Capuchon Ltda.

A frente desta, Marcio produziu o Festival de Bandas de Garagem (2007) e o lançamento do CD “A Nova Música de Floripa” (2010), com a Unimed Florianópolis e a Fundação Franklin Cascaes, dando uma primeira oportunidade de gravação para bandas iniciantes da Ilha.

Além disso, colaborou em várias Fenaostras, Encontros da Nações, Encontro Nacional de Bois de Mamão, Aniversários de Florianópolis e da Fundação Municipal de Cultura de Florianópolis Franklin Cascaes, sempre em parceria com esta última.

 

 

III - “VIDA LONGA AO CAPUCHON”

 

Apesar do sucesso em terras lusitanas, com saudades da terra-mãe e boas notícias de que havia, finalmente, bons incentivos à cultura em nosso Estado, inclusive o Prêmio Estímulo à Gravação de CD’s,

Marcio Cesar resolve retornar e reativar o CAPUCHON (já que o grupo nunca deixara de existir), inclusive criando a empresa GRUPO MUSICAL CAPUCHON LTDA., reunindo componentes da segunda a ultima formação da banda, com a inserção já da segunda geração CAPUCHON, como o baterista Mark Cedric Tonelli Santos, filho de Marcio. Aliás, a prova maior das influencias de “capuchons” sobre as gerações seguintes é que a maioria dos filhos destes seguem carreiras artísticas, como músicos populares, músicos eruditos, bailarinas clássicas e modernas.

Em 1996, Marcio, João Carlos e Ney Platt formam a banda Flor do Sereno II (nome usado por Aldo Bastos, no final da década de 70, para uma das vertentes do Capuchon), que passa a atuar nas noites locais com repertório comercial.   

No ano seguinte, resolvem fazer o show “Resgate”, incluído composições do Capuchon, convidando Aldo, Miro e Mark, entre outros, para participarem dos trabalhos. Após meses de trabalho de arranjos e ensaios, apresentam o show no Teatro Álvaro de Carvalho, com bom público e ótima recepção, trazendo de volta “O Manga”, “Cabeças”, “Leila”, “Raio da Manhã”, “Todo Dia Cedo”, “Estrela do Interior” para deleite da platéia.

O show ainda contou com a participação de Nicolas Malhome (percussão), Vera Paladini, além de Everson Paladini e Salete Mattos nos vocais, sendo que os dois últimos viriam a participar da nona formação (2005) do Capuchon, ele como tecladista e vocais e ela como produtora.

Constantemente, o CAPUCHON prepara trabalhos de resgate de suas composições e de suas influências nos anos 70, mesclando elementos de diversas fases do grupo.

            Em outubro de 2003, Os Santos convidam Miro Preis e Aldo Bastos (vocais), João Carlos (guitarra e vocais), Caio Muniz (teclados e vocais) e Beto Ferrugem (percussão) para reviver o som dos anos 70, montando o show “Santos Cantam Floripa 70”, apresentando-o na V FENAOSTRA, com músicas do Capuchon, Grande Pássaro, Flor do Sereno e Karroussel, além de composições próprias de Marcio, algumas gravadas pela banda Tok & Cor em Portugal.

A partir do evento, resolvem voltar com o Capuchon, desta vez com Marcio Santos (voz, violão e baixo), Jimi Santos (voz e guitarra), Mark Santos (bateria), Nilo Sergio Aguiar (voz e percussão), Miro Preis (voz e violão) e João Carlos (voz, baixo e violão), fazendo sua pré-estréia na Festa do Kioske 2003, no Iate Clube S.C. Veleiros da Ilha, enquanto preparam projeto para gravação de três CDs, (Capuchon 70, Capuchon 80 e Capuchon 2004) e respectivos shows de lançamento.

            Para dar continuidade ao trabalho, em março de 2005, Marcio convidou Miro, Nelson, Nilo e Kachias, sendo que os três primeiros participaram de poucos ensaios e desistiram, enquanto Kachias abençoou a continuidade do Capuchon.

Assim, em maio de 2005, Marcio reuniu Mark Cedric, João Carlos da Silva e Everson Paladini, além de Salete Mattos na assessoria,  e partiu para re-arranjo das canções da década de 70, cujo primeiro sinal verde surgiu ao classificarem Pirâmide de Queops (de Aldo Bastos e Marcio Tonelli)  para a II Mostra de Músicas do SESC (coordenado por Luiz Moukarzel, assessorado por Marcelo Muniz), realizado no Teatro do CIC em 29 de julho do corrente ano. Pirâmide também foi gravada em CD do evento, com a participação do Coral Nós e Vozes, liderado por Paulo Sol.

            Em paralelo, Marcio, Mark e João criaram, em 2005,  o CAPUCHOFF (uma brincadeira com On e Off) para trabalhar nas noites de Floripa (e não só), contando com participações eventuais de Everson e sempre com a assessoria de Salete. O CAPUCHOFF estreou numa festa de formatura no salão da Elase em 30 de julho, e com o show “Nos Tempos da Jovem Guarda” no Manezinho Bar, em 05 de agosto, com apresentação para divulgação no Programa Evandro Saad (SBT – Floripa) e no Programa César Souza da TVBV.

Resolvem mudar o nome Capuchoff para US Maneh.           

            Programado para estrear em 13 de outubro na primeira parte do show-solo “Cúmplice”, de eversonpaladini (como ele assina os trabalhos solo), o CAPUCHON prosseguiu ensaiando para o evento e para gravação de uma série de três CDs (Capuchon 70, Capuchon 80 e Floripa 2.000). Com este trabalho, pretendia reiniciar sua trajetória de valorização dos temas ilhéus, almejando perpetuar, não apenas com os membros atuais, futuramente com filhos e amigos destes, já que hoje conforme Kachias, o termo CAPUCHON traduz mais uma “filosofia musical  de vida” do que o simples nome de uma banda.

 

IV - “ENTRE A SEMENTE E O FRUTO, HÁ TEMPO E ESPAÇO” (por Edu Aguiar)

 

“Os 30 anos não lineares do Grupo Capuchon dão a idéia exata da dificuldade milagrosa em conseguir manter vivo qualquer projeto nesse setor.

O Grupo Capuchon soube arar o tempo e plantar a semente usando as razões básicas da maior força de expressão cultural, a música, e assim ver brotar a árvore da criação que não produziu sombras, mas frutificou fazendo uma geração navegar, cantando pelos caminhos cheios de graça e de luz, viu amores e verdades, flores e vaga-lumes e projetou-se no porvir dos sonhos, transformando em realidade o desejo de ser a voz da geração de uma década calçada no sol que abraçou a luta na busca de igualdade.

Marcaram uma época de portas fechadas e janelas entre abertas, onde nos muros estava escrito que tudo não estava bem.

Mesmo nesta fase o Grupo Capuchon teve a fórmula de plantar e regar as sementes da criação e de ver brotar as palavras e construir as frases, as rimas, as melodias, deixar marcas no tempo onde o vento em harmonia venceu na história apagando as estrelas do peito de quem queria calar a voz e o sentimento de quem clamava por liberdade e avançou no tempo pulverizando verdadeiras estrelas num céu de verdades e sentimentos.

Assim pode mostrar toda arte recriando a realidade, subvertendo-a, transformando-a, revelando o seu avesso, pois souberam imprimir ao real um caráter ético e um sabor estético superando a linguagem usual e refletindo, de modo surpreendente, a imaginação criadora.

É simplesmente isso que a música do Grupo Capuchon sempre quis revelar: o verdadeiro artista com poder de criação, pois é isso que faz e traz lembranças de qualquer ídolo, qualquer época, qualquer movimento cultural, é a forma de arte que honra a essência da palavra. É por isso que daqui a vinte ou cinqüenta anos, continuaremos nos lembrando deste grupo da década de setenta, que na sua trajetória deixou mais do que saudades, pois sua história foi marcada pela genialidade de seus músicos, compositores e intérpretes.

As eras novas hão de chegar. O Capuchon saberá canta-las.  “Quando um bom dia amanhece, a vida será esse dia...” e acompanhado de um som que se mistura com o cantar dos pássaros, a vida terá percorrido o tempo e preenchido o espaço, pois é o grupo capuchon renascendo, revivendo a sua própria história.”   (por edu aguiar)

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